Maior montadora de automóveis do mundo
reconheceu que se move com demasiada lentidão na corrida para lançar veículos
elétricos
O executivo-chefe da Volkswagen prometeu
empregar um jovem ativista de defesa do clima para questionar “agressivamente”
as políticas ambientais da empresa, ao reconhecer que a maior montadora de
automóveis do mundo se move com demasiada lentidão na corrida para lançar
veículos elétricos.
“Eu pretendo contratar um ativista”,
disse Herbert Diess ao “Financial Times”. “Temos muitas ideias, mas elas
demoram muito para serem implementadas em nossa grande organização, por isso
preciso de alguém realmente agressivo internamente.”
Em uma iniciativa rara para uma
multinacional, o escolhido terá acesso direto a Diess e outros altos executivos
da Volkswagen.
O executivo de 61 anos, que supervisiona
a investida de 33 bilhões de euros do grupo alemão no setor dos veículos
movidos a bateria, tem sido cada vez mais insistente sobre a necessidade de um
preço de CO2 — um imposto sobre o carbono que se aplique a todos os setores e
não apenas a alguns — e apelou a Bruxelas para que acabe com as usinas de
energia a carvão na Europa.
A Volkswagen espera vender 1 milhão de
carros livres de emissões nos próximos três anos, o que a levaria a suplantar
empresas como a Tesla e outros pioneiras na área de veículos elétricos. Seu
primeiro “hatch” elétrico para o mercado de consumo em massa, o ID.3, deve ser
lançado para venda ainda este ano, assim como o carro esportivo de luxo Taycan,
da Porsche, uma das marcas da Volkswagen.
Mas a empresa incorreu na ira de
ativistas na Alemanha e outros países por sua dependência dos lucros gerados
por veículos utilitários esportivos que fazem uso intensivo de combustível,
descritos pelos ativistas como “tanques urbanos que causam danos ao clima”, e
por não abandonar a produção de automóveis com motores a combustão com a
rapidez suficiente.
“Somos muito lentos”, admitiu Diess.
“Estabelecemos equipes de gestão em departamentos estratégicos, de comunicações
e muitos outros, e acho que precisamos de mais desafios internos.”
A gigante alemã do setor automobilístico
já tem um conselho consultivo de sustentabilidade, que foi constituído depois
do Dieselgate e inclui entre seus membros a ex-diretora da Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos Margo Oge e a ex-comissária da União Europeia para
assuntos do clima Connie Hedegaard.
Contudo, Diess, que já identificou alguns
candidatos para o cargo, disse que queria um ativista do clima que se
reportasse diretamente a ele, e desconsiderou sugestões de que suas
recomendações acabariam prejudicando os resultados da Volkswagen.
“Acredito que essa transição [para os
veículos elétricos] é uma chance de crescimento”, disse Diess. “Não acho que
ela vá condenar o setor.”
Ele também previu que os SUVs se
tornariam menos populares. “Os carros elétricos vão mudar as prioridades das
pessoas quanto a estilos de carroceria. Você perde muita variedade em grandes
SUVs.”
O executivo-chefe fez seu anúncio semanas
depois que o dirigente de outra grande multinacional alemã, a Siemens, tentou
acalmar protestos contra um contrato de uma mina de carvão com a oferta de uma
vaga no conselho de supervisão a uma ativista de 23 anos.
Luisa Neubauer, uma conhecida ativista
alemã do movimento “Fridays for Future” (sextas-feiras para o futuro), um grupo
de pressão ambiental, repudiou a proposta e sugeriu que em vez disso a Siemens
nomeie um cientista especializado em questões climáticas.
Já faz tempo que o setor automobilístico
alemão é alvo de protestos. Uma série de bloqueios no Salão do Automóvel de
Frankfurt, em setembro, ofuscou a vitrine da indústria e levou os organizadores
a renomear e realocar seu principal evento, cuja próxima edição está marcada
para 2021.